Eu fecho a porta atrás de mim e jogo as minhas chaves no balcão, mas eu não entro dentro de casa. Eu fico parado na frente da porta, eu não quero entrar e ver uma casa vazia.
- Eu sinto sua falta... Valerie.
Quando Valerie, minha noiva, foi embora. Essa casa se tornou um lugar gelado e solitário. E é uma tortura viver nessa casa sem ela, afinal, essa era para ser a nossa casa, onde iriamos viver depois de casados e onde iriamos criar nossos filhos... Mas ela foi embora, agora é só eu vivendo aqui.
E eu não consigo parar de pensar e imaginar sobre o que ela está fazendo agora, nesse momento. Pensando em mim, eu tenho certeza que ela não está. Afinal, foi ela que decidiu que não queria ter mais qualquer relacionamento comigo. Ela partiu meu coração, mas tudo bem... eu estou bem.
Eu faço as minhas pernas entrarem para dentro da casa escura. Eu não olho ao redor, nem toco em nada. Só vou direto para o nosso quarto, não, não é mais o nosso quarto. Agora é só meu quarto, onde eu vou dormir sozinho. Onde Valerie nunca mais vai entrar ou dormir. O que é maravilhoso, pois agora tenho toda a cama para mim. Eu posso rolar nela e dormir como eu quiser. Afinal, eu não vou dividir aquela cama com mais ninguém.
Isso é tão bom, eu deveria estar festejando em vez de estar chorando.
Há eu estou chorando... de novo. Isso se tornou algo normal, eu venho chorando bastante nesses meses. Ontem eu entrei na casa chorando, hoje eu comecei a chorar depois que deitei na cama, isso é que eu chamo de progresso. Talvez, depois de algum tempo, eu pare de sofrer tanto por aquela mulher sem coração. E ai terei a minha vida de volta... isso seria bom.
O meu celular começa a tocar na cabeceira do lado da minha cama. Mas eu não saiu do meu lugar, eu deixo o celular tocar uma, duas, três... dez vezes. O celular para de tocar e eu fecho os meus olhos satisfeito. Mas depois de um tempo o meu celular começa a tocar de novo. Eu suspiro, parece que não tem como eu evitar. Eu pego o me celular e aperto para atender a chamada.
- Oii Carlos, você é tão doce de finalmente decidir me atender. - Minha irmã, Lídia, fala irritada do outro lado da linha.
- Lídia, você precisa de alguma coisa? - pergunto, pronto para terminar essa conversa.
- Sim preciso. Preciso do meu irmão de volta. Esse senhor ranzinza que tomou o lugar dele, está me dando nos nervos!
- Fala logo o que você quer ou eu vou desligar - Depois que Valerie me deixou, eu não tive motivação para fazer nada, muito menos conversar com outras pessoas. Nesse momento eu só quero ficar sozinho e tentar lidar com a bagunça que se tornou a minha vida.
- Se você desligar esse telefone eu vou para a sua casa agora e vou bater na sua porta até você abrir! - Lídia grita pelo telefone.
- Tá bom, eu entendi. Eu não vou conseguir me livrar de você. Tá ok, só não precisa gritar no meu ouvido. - Falo, já resignado.
- Que bom que você entendeu irmãozinho. - Lídia, fala satisfeita. - Então, como você está? você continua se lamentando pelos cantos por causa daquele espantalho ruivo? hmm?
- Não chame ela assim.
- Para de defende-la, ela não merece isso de você. Mas, Enfim, não vamos falar de coisas sem importância. Eu liguei para saber se você tem algo marcado para fazer amanhã a tarde? Se tem, desmarque tudo! Por que a sua zelosa irmã marcou um encontro para você.
- Você fez o que!?
- Eu disse, que sua irmã maravilhosa marcou um encontro para você.
- Você não deveria ter feito isso. Desmarque, eu não pretendo ir.
- Carlos, Você precisa ir! Essa é a melhor maneira de você exorcizar aquela assombração ruiva da sua vida. Confia em mim, eu sei do que eu estou falando. Eu tenho muito mais experiencia no quesito amor do que você tem.
- Eu não sei Lídia. Eu... eu não estou pronto.
- Não seja bobo. É claro que você está pronto. Aliás, você está mais que pronto. Já fazem dois messes que ela te deixou, Você já sofreu o que tinha que sofrer e você já chorou o que tinha que chorar. Agora está na hora de lavar o rosto, tirar a barba, por roupas limpas e começar uma vida nova e um amor novo.
- ... talvez você esteja certa.
- Eu sempre estou certa. Agora, confie na sua linda irmã e vá para o encontro amanhã.
- ... Tá bom, eu vou.
- YESS! yes, você não vai se arrepender. Eu vou mandar os detalhes por mensagem. Agora, vá descansar. Amanhã você vai ter um dia e tanto.
- Ok... Boa noite Lídia.
- Boa noite Carlos.
Eu termino a ligação e volto a deitar na cama. Será que eu fiz a escolha certa? Eu sinto que é errado sair com outras mulheres, quando tudo que eu consigo pensar é sobre a minha ex. Talvez por isso mesmo eu deva ir nesse encontro. Mas isso não importa mais, eu já aceitei, então eu tenho que ir. Se não Lídia me mata.
Com um suspiro eu desligo as luzes do quarto e durmo um sono inquieto.