A luz do sol entra pelas janelas do meu quarto e me informa que um novo dia chegou. Deve ser uma linda manhã no lado de fora, pena que não tenho qualquer vontade de ir ver. Eu me sinto tão desmotivado e cansado com a vida. Eu só quero ficar na cama sem me mexer.
Ah espera, essa não é uma má ideia.
Hoje é sábado eu não tenho que ir trabalhar. E o encontro que minha irmã arrumou para mim é só de tarde. Eu posso muito bem passar a manhã toda na cama, sem precisar encarar ninguém.
Dito e feito.
Eu acabo passando a manhã inteira na cama. Nem os roncos de fome da minha barriga me fazem querer me mexer. Eu fico assim até um hora da tarde, quando a campainha da minha casa começa a tocar.
Talvez, se eu ignorar a campainha, a pessoa vá embora pensando que eu não estou em casa...?
A pessoa na minha porta fica impaciente e começa a abusar da minha campainha. Ela toca repetidamente sem parar. O barulho incessante acaba me irritando, sem querer ficar ouvindo o toque da minha campainha por mais tempo. Eu levanto e vou atender a porta.
- Minha nossa! Você... Você está bem? Você parece péssimo! - Mônica, minha irmã mais nova, me olha preocupada. - por que você não atendeu a porta mais cedo? Eu achei que tivesse acontecido algo com você.
- Oi Mônica, eu só estou cansado e não queria descer e atender a porta. Então, por que a visita?
- Eu liguei para você, mas a chamada foi para a caixa postal. Então, eu decidi vir pessoalmente e ver como você está.
- Eu devo ter esquecido de por meu celular para carregar ontem a noite, então ele deve ter descarregado. Mas você não precisa se preocupar comigo, eu estou bem.
- Você não parece bem... Para falar a verdade, você parece tudo, menos bem.
Eu me sinto culpado por fazer minha família se preocupar comigo. E eu sei que eu deveria esquecer Valerie e por minha vida em ordem. Ser mais responsável, tentar ser mais produtivo... ser como eu era antes. Mas isso é impossível.
Antes, eu me esforçava tanto, eu tentava ser o melhor, eu fazia tudo isso por Valerie. Eu queria ser digno dela. Eu queria ser o melhor namorado, o melhor noivo e... e o melhor marido. Mas os meus esforços e todos os meus planos foram de água a baixo quando ela disse que não me queria mais... O meu melhor não foi o suficiente para ela querer ficar. E isso me devastou.
- Carlos? Carlos! - Mônica me chama e me tira dos meus pensamentos. - Carlos, você está bem?
- Sim, Eu estou ótimo. Desculpa Mônica, eu ando meio distraído.
- Tudo bem, eu entendo - Mônica me dá um sorriso tímido. - Então, antes de vir aqui eu passei na padaria e comprei um bolo de canoura com chocolate. Que tal você me convidar para entrar e eu preparo dois cafezinhos para nós comermos com esse bolo?
Com a menção ao bolo de cenoura, a minha barriga começa a roncar de fome. Me lembrando que eu não comi nada hoje. É tão alto que até Mônica ouve.
- Parece que a sua barriga concorda comigo. - Mônica me dá um sorriso brincalhão. Um pouco envergonhado eu acompanho Mônica até a cozinha. Onde ela começa a se ocupar. Ela prepara o café, enquanto eu pego uma faca, dois garfos e dois pratos. Eu coloco tudo arrumado no balcão para comermos o bolo. O cheiro de café se espalha pela cozinha, sinalizando que ele está pronto.
Mônica me dá uma caneca de café e se senta no meu lado com a caneca dela. Em silencio nós comemos o bolo, e o clima familiar que surge é reconfortante. Eu amo a minha família e fico fez em saber que eles estão ao meu lado. O apoio deles, nesse momento difícil, vem me ajudando bastante.
- Então, ontem eu conversei com a Lídia. E ela me disse que você aceitou ter um encontro com a amiga dela. - Mônica fala animada. Depois que terminamos de comer o bolo. Mônica e eu fomos para a sala de estar para conversarmos.
- ah sim, eu aceitei ir para o encontro. Lídia disse que já estava na hora de eu seguir em frente. E eu concordo com ela... Valerie não vai voltar, ela deixou isso bem claro. Então, é melhor eu seguir em frente e tentar esquecer ela.
- Não fique triste Carlos. Eu sei o quanto você amava ela e como você ficou arrasado quando ela foi embora. Foi horrível e você não merecia passar por isso. Mas isso não significa que o mundo acabou, esse momento difícil vai passar. E você irá voltar de toda essa bagunça firme e forte. E esse encontro, hoje a noite, é o começo para o caminho certo. - Eu olho para os olhos esperançosos da minha irmã. E não tenho coragem de contradizer ela, então eu só sorrio e balanço a cabeça.
Mônica fica por mais um tempo conversando comigo e antes de ir embora, ela me pede para ligar para ela e informa-la de como o meu encontro foi. Minhas irmãs estão mais animadas que eu com a ideia desse encontro. É meio engraçado.
Mais tarde eu descubro que minhas irmãs não são as únicas que estão animadas. Minha mãe me liga naquela tarde e me fala o como ela está contente por eu ter decidido ir nesse encontro. E de como ela está feliz, que eu finalmente decidi esquecer "aquela garota".
E é claro, minha mãe se refere a minha ex-noiva, quando ela fala "aquela garota". Minha mãe gostava bastante de Valerie, a duas saíam para cima e para baixo juntas. A minha mãe sempre falava que ela considerava Valerie uma das filhas dela. Mas tudo mudou quando Valerie decidiu ir embora. Agora, minha mãe odeia a mera menção do nome da minha ex-noiva.
Depois de Mônica, foi a vez da minha irmã mais velha, Lídia, me fazer uma visita. E ela já chega dando ordens, como uma ditadora. Ela disse que se eu fazer tudo que ela disser, direitinho, o meu encontro será um sucesso. Ela me manda tomar banho, tirar a barba e por colônia. Ela me faz trocar de roupas mais de mil vezes, para no final falar que eu não tenho nenhum senso de moda e minhas roupas são idiotas. Já de saco cheio, eu falo a ela que não vou mais trocar de roupa, eu vou ao meu encontro com as roupas que estou vestindo e pronto. Ela reclama que as roupas que estou vestindo são as piores que tenho e que me fazem parecer um adolescente problemático.
Nós discutimos sobre as minhas roupas por um tempo. E no final eu decido fazer os gostos dela e troco mais uma vez de roupa. E Depois de estilizar o meu cabelo, minha irmã, encarna a professora interior dela.E começa a me ensinar o que eu posso e não posso fazer no encontro. O que devo dizer e que não devo dizer. E depois ela me fala a história de vida da garota que tenho o encontro com. Confesso, que tudo que ela me disse entrou em uma orelha e saiu na outra.